Entre a Terra e o Mar
Sagres, vila algarvia integrante do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
Constituída Vila do Infante nos séculos da Expansão Portuguesa, esteve desde sempre entre a Terra e o Mar, tendo sido zona de cruzamento de rotas marítimas, entre o Mediterrâneo e o Oceano Atlântico, porto de pescadores e comerciantes, mas também, muito fustigada pelos corsários que por aqui navegavam.
É aqui, e por essa razão, que se ergue a Fortaleza de Sagres, um edifício de imponência tal, que de certa forma se une com a massa rochosa onde se situa. Fora, durante séculos, a principal praça bélica do sistema marítimo-defensivo Português. Um edificado maciço que se opunha a quem do mar se arriscava a atacar aqui, e fazia valer os seus alicerces, afirmando a sua posição e o que defendia.
No Promontório de Sagres há, ainda hoje, uma enorme biodiversidade de fauna e flora, e também espécies endémicas únicas, que podem ser observadas e admiradas pelo olhar de curiosos e entusiastas da riqueza natural que aqui existe. Não só no promontório, mas ao longo de toda a Costa Vicentina, somos envolvidos pela Natureza no seu estado mais puro.
As árvores, as aves, as marés, os areais, as falésias, as ondas e os trilhos de flora silvestre transportam-nos numa viagem que nos eleva, que nos embevece com a sua beleza arrebatadora e nos deixa apaixonados pela calma que nos vai preenchendo ao longo dos seus recantos. Somos inundados por sensações de liberdade, leveza e desprendimento do corrupio das cidades.
Excelente para a prática de desportos aquáticos, toda a costa se vê preencher pelas mesmas, e podemos avistar surfistas, nadadores, banhistas e mergulhadores em todas as praias da região, sempre alheios a horários e rotinas, a não ser as das marés, tentando escapar às regras que a sociedade impõe e à correria do dia-a-dia.
Mas também de tradições se faz esta terra. As atividades piscatórias e os seus intervenientes são já uma tradição em territórios algarvios. A pesca é para muitos dos que aqui residem uma profissão, um meio de subsistência, um modo de vida. Os pescadores que aqui vêm pertencem a um grupo restrito que pode entrar na Fortaleza, para exercer tais atividades. Conhecem cada pedaço de terra e de pedras que pisam e cada planta que tocam, cada brisa que sopra e cada onda que, lá no fundo da falésia, bate. Sabem do mar e do vento, do isco e do peixe. Carregam com eles o peso de uma geração, de uma profissão em desuso e da luta pela sobrevivência. Mas levam com eles os sabores algarvios autênticos, a alegria de uma sandes de torresmos e um copo de vinho ao relento, mas, sobretudo, a virtude de saber esperar pelo que a vida (ou o mar) nos vai trazendo.
Terra das Gentes com histórias traçadas e vividas, naquela que é a fusão entre a Natureza e o espaço construído.
Sagres, entre a Terra e o Mar, não fica entre. É a Terra, é o Mar, é o Homem.
“A máquina fotográfica não é mais do que a ferramenta que regista sobre um suporte sensível a decisão feita pelo olhar.” CALVET, Nuno. foi Nuno Calvet, Perfil. RTP1, 1978.